domingo, 7 de agosto de 2011

- Lembra da primeira vez em que a gente conversou?
- Sim. Janeiro, férias, você, minha cidade, alguns amigos em comum.
- É, eu não gostei muito de você.
- Na verdade você achava que não gostava. Nem me conhecia!
- Achava. Tenho essa mania de achar as coisas.
- Percebi.
- Mas de uma coisa eu tenho certeza: sei que posso confiar em você, e em tudo que você diz sentir por mim.
- Às vezes não parece.
(silêncio)
- Mas é.
- E por que você acha que pode confiar em mim? Nem eu confio.
- Lembre-se que não é questão de achar, e sim de ter certeza.
- E...
- É que você não pode olhar profundamente nos teus olhos assim como eu posso, mesmo que raramente. Você me passa confiança da forma mais bonita e sincera: olhando.
- Eu ainda prefiro os teus.
- Meus olhos?
- Sim. E mais um pouco também.
- Como?
- Me limitaria dizendo que gosto apenas dos teus olhos. Gosto de tantas coisas em você que fica difícil falar.
- Você é tão doce! Me deixa com o coração disparado e um sorriso bobo no rosto, sabia?
- Sei.
- Como sabe? Você não está próximo.
- Eu não preciso estar. A gente pode sentir o outro, de longe mesmo.
Pelo menos eu sinto. Não estou perto, mas é como se estivesse.
- Parece que você fala tudo o que eu preciso ouvir.
- Eu apenas falo tudo o que eu preciso falar.

Cada palavra dita e sentida eram como um abraço apertado de saudade.
Havia distância, mas também havia amor. E muito.
Bastava.


Luise passava as horas vagas (e outras nem tão vagas assim) lembrando das conversas, até dessas no telefone. Sempre anotava. Porque quando lia ela podia não só lembrar, mas reviver também. Você deve  saber o quanto é bom poder viver de novo os dias e acontecimentos bons. E é possível sim. O que passou ainda é, e pode continuar sendo. Se quisermos.


(pequeno trecho de um futuro livro)

Françoíse A. Machado