quinta-feira, 9 de junho de 2011

Diálogo entre eu e eu mesma.

Olho a rua pela janela. Dia chuvoso. Gosto assim. Ver a chuva fina despencar do céu e esborrachar sem dó em direção ao chão, formando poças que ao tardar se tornam espelhos ondulados, como aqueles que existem em exposições, onde a  figura fica refletida e destorcida.
O tempo ocioso e entediante faz a cabeça trabalhar mais que o normal.

- Tenho saudades de lembranças.

- Você não tem saudades de lembranças, menina, tem saudades de momentos.

- É, deve ser. Foi isso que eu quis dizer.

- E isso é bom, não?

- Nem sempre. Lembrar me faz querer voltar no tempo. E eu não posso.

- Tanta coisa vai acontecer ainda, e o dia de hoje vai ficar marcado, por mais simples e aparentemente inútil que ele seja. Você vai sentir saudade desse dia. E de mim também. Porque você sabe, estou sujeita a mudanças. Mudamos.

- Saudade de você?

- De você.

(silêncio)

- Você me confunde. Complica tudo.

- Você dá motivos.

- Eu tento não dar motivos.

- E você acha que é o suficiente?

- Não é suficiente. Não sou suficiente. Sei que fico no meio termo.

- O que é uma pessoa meio termo?

- Eu.

- E você é o que?

- Um meio termo. Meio termo é.... Não sei.

- Você não pode ser aquilo que não sabe nem o significado.

- Então nada sou. Eu não sei tantas coisas...

- Essa é a graça. Se soubéssemos de tudo não haveria busca, curiosidade, magia.

- Não saber é mágico?

- Sim.

- Explica?

- É mágico o suficiente para você me questionar todos os dias, não ter respostas, e mesmo assim continuar insistindo.

A porta bateu. Olhei para trás e não havia nada, era só o vento. Voltei o olhar para janela e avistei uma moça com um guarda-chuva colorido bonito, e mais bonito ainda era o seu sorriso. Aquele sorriso que a gente fica querendo saber o motivo. Distraí e esqueci de me responder, acho também que o assunto tinha acabado. Convivo tanto comigo, mas questino mais os outros do que eu. Preciso de mais diálogos assim: eu e.. Eu.
Acho que tenho as melhores respostas, mesmo que incompletas.
Sou a única que não conheço e confio.



Françoíse A. Machado.