O tempo ocioso e entediante faz a cabeça trabalhar mais que o normal.
- Tenho saudades de lembranças.
- Você não tem saudades de lembranças, menina, tem saudades de momentos.
- É, deve ser. Foi isso que eu quis dizer.
- E isso é bom, não?
- Nem sempre. Lembrar me faz querer voltar no tempo. E eu não posso.
- Tanta coisa vai acontecer ainda, e o dia de hoje vai ficar marcado, por mais simples e aparentemente inútil que ele seja. Você vai sentir saudade desse dia. E de mim também. Porque você sabe, estou sujeita a mudanças. Mudamos.
- Saudade de você?
- De você.
(silêncio)
- Você me confunde. Complica tudo.
- Você dá motivos.
- Eu tento não dar motivos.
- E você acha que é o suficiente?
- Não é suficiente. Não sou suficiente. Sei que fico no meio termo.
- O que é uma pessoa meio termo?
- Eu.
- E você é o que?
- Um meio termo. Meio termo é.... Não sei.
- Você não pode ser aquilo que não sabe nem o significado.
- Então nada sou. Eu não sei tantas coisas...
- Essa é a graça. Se soubéssemos de tudo não haveria busca, curiosidade, magia.
- Não saber é mágico?
- Sim.
- Explica?
- É mágico o suficiente para você me questionar todos os dias, não ter respostas, e mesmo assim continuar insistindo.
Acho que tenho as melhores respostas, mesmo que incompletas.
Sou a única que não conheço e confio.
Françoíse A. Machado.